Estatística

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Reflexões sobre a recolha de lixo em Luanda

A recolha e tratamento do lixo/resíduos sólidos sendo uma componente do saneamento básico é uma actividade que antes de mais, deve ser vista como trabalho comunitário, que tem de ser realizado em benefício do bem-estar das populações, constituindo-se assim em mais-valia em termos de saúde pública.
O objectivo principal da recolha regular do lixo/resíduos sólidos produzido pela comunidade é evitar a sua acumulação, para não dar possibilidades do mesmo exibir todo o seu mau aspecto (poluição visual), a proliferação de vectores causadores de doenças, como ratos, baratas, moscas e outros que encontram nos restos que consumimos as condições ideais para se desenvolverem ou ainda o exalar de maus cheiros, a deflagração de incêndios com a consequente emissão de fumos que provocam doenças respiratórias, a inestética da cidade, etc.
resíduos resultante da limpeza da vala de drenagem na rua da Samba
Tudo isso incomoda a população que vê-se obrigada a tecer duras críticas às Administrações Municipais e de uma forma geral ao Governo, levando a um desgaste político tão grande que deve obrigar as entidades administrativas e governamentais a reflectirem na promoção de investimentos sérios para estes serviços.
Entretanto, para a organização e eficácia na realização dos serviços de recolha há a considerar factores sociais de ordenamento urbano tais como:
1-  Diferenciar a deposição e recolha do lixo/resíduos sólidos domésticos do comercial de forma a optimizar e rentabilizar os serviços.
2-  Organizar a pré-recolha nos grandes aglomerados tais como mercados, feiras, etc., com deposição em recipientes posicionados em pontos predefinidos para recolha .
3-  Incentivar a participação comunitária em todas vertentes através da sensibilização permanente dos cidadãos para que contribuam com opiniões, participação em campanhas e outras formas de educação comunitária, para efectivação cada vez mais eficiente dos serviços.
4-  Disciplinar o tráfego e o estacionamento automóvel como forma de evitar os constrangimentos que provocam aos serviços de recolha e transporte dos lixos para o destino final. Estes (constrangimentos) também estão ligados ao mau estado de conservação das vias e o baixo nível cívico dos automobilistas.
5-  Criar condições de terraplenagem e arranjo das ruas no interior dos bairros suburbanos para facilitar a recolha, que se pretende porta a porta e com regularidade.
6-  Criação de incentivos, por parte das estruturas do estado, para potenciar as operadoras destes serviços tais como:   
-       Financiamentos para reforço da capacidade de recolha;
-       Incentivar o surgimento de empresas de beneficiamento para valorização de alguns componentes do lixo/resíduos sólidos.
7-  Criar e fazer cumprir com rigor regulamentos de comportamentos cívico e comunitário por forma:
-       A evitar o surgimento de pequenos mercados anárquicos, muitos deles nas bermas e passeios das vias públicas;
-       Que se preestabeleça e se faça cumprir os horários para deposição do lixo por parte da população;
-       Que o estacionamento automóvel não prejudique a efectivação dos serviços, optimizando assim os equipamentos e o tempo de recolha;
-       Que os grandes produtores utilizem transportes próprios ou celebrem contratos com operadoras de limpeza para recolha e transporte dos lixos/resíduos sólidos por eles produzidos;
-       Que a recolha seja feita sem falhas por parte das operadoras para evitar constrangimentos à população no acto da deposição;
-       Que haja recolha especial para os escombros, sucatas e resíduos volumosos, também denominados “monstros”, por estes exigirem equipamentos especiais adicionais para sua realização e outro tipo de tratamento final.
Estas reflexões foram inspiradas pelo programa “Fórum Manhã Eclésia” da Emissora Católica de Angola do dia 23/06/2004 e surgiu como contribuição pessoal para as estratégias eventualmente traçadas pelo Governo Provincial de Luanda (Comissão de Gestão) e Governo Central para recolha do lixo/resíduos sólidos.

Entendemos também que estes serviços só resultarão em melhorias se houver um programa e um regulamento de resíduos sólidos institucionalmente apoiado.
Luanda, 23 de Junho de 2004

Bessangana
Malembe

domingo, 15 de maio de 2011

O processo de "mussequização" de uma cidade

-Musseque (ou muceque?) é a designação que se dá aos bairros suburbanos (pobres) dos arredores de Luanda segundo o dicionário da Priberam "in internet", com acréscimos meus; 

-Musseque é a designação de bairro ou aglomeração de moradias das classes pobres, termo de etimologia quimbundo, "museke", que significa quinta ou lugar de areia, conforme dicionário Houaiss da Língua Portuguesa do Instituto António Ouaiss, Editora Objectiva, Brasil.

José Carlos Venâncio no seu livro “A Economia de Luanda e Hinterland no Século XVIII, um estudo de sociologia histórica” faz referência a um documento de 1892 que “menciona que os musseques eram terras de agricultura” …  nas quais os … “pomares e hortas se localizavam …”  e faz também referência a Mário Pinto de Andrade que designa musseque, na origem, como simplesmente a areia de cor encarnada do terreno à volta de Luanda no qual estão implantados os referidos bairros pobres.      
Musseque de Luanda eram locais onde se praticava agricultura e se transfomava o produto - produção de farinha de mandioca
O Musseque surgiu da necessidade do autóctone ter uma moradia depois que foi retirado das zonas urbanizadas e urbanizáveis para assentamento dos mais abastados, os colonos europeus na sua maioria. O musseque caracteriza-se por um aglomerado de casas construídas de forma desalinhada, sem traço urbanístico, amontoados algumas vezes, com acessos estreitos para a circulação automóvel, becos acessíveis somente a pessoas e em alguns deles somente a uma e as vezes sem saída. É área sem condições de habitabilidade, onde falta quase tudo para uma vivência condigna e, pelas características de ocupação, facilmente alberga gente de índole duvidosa e perigosa.
-"Mussequizar, mussequização" é um neologismo utilizado por mim na elaboração do presente texto e tem a sua origem no termo musseque, cujo significado procuramos explicar conforme os livros acima mencionados e queremos com ele retratar o processo de deterioração das áreas urbanas consolidadas ou em fase de consolidação. Processo este que se dá por razões de ausência ou descontinuidade de manutenção das infra-estruturas urbanas, dos mobiliários e imóveis urbanos e se completa com a construção anárquica de partes anexas aos imóveis ou em espaços públicos, deformando por completo a estética harmónica urbana.
Este fenómeno é complementado com a venda ambulante de forma caótica por aglomerar vendedores em espaços públicos como praças, passeios e vias de circulação automóvel para comercializarem todo tipo de produtos.  É a indisciplina instalada que exige dos governantes ponderação e perspicácia para engendrar soluções adequadas a contento de todos, dado o estado de miséria em que vivem as populações periféricas, suburbanas e rurais que encontraram na comercialização de vários produtos, muitas vezes em locais impróprios, o seu ganha pão.
A "mussequização" pode ser considerada a forma difusa de tornar inviável o sistema urbano provocando o caos, com todas as consequências que conhecemos:
Lixo espalhado e toda sorte de imundice depositado indiscriminadamente em grandes extensões das vias e dos espaços públicos, acelerando o entupimento do sistema de esgotos que consequentemente deixa transbordar as águas residuais que exalam cheiros nauseabundos tornando o ambiente insuportável e propenso a contaminações da saúde pública, além de ser uma componente que acelera a degradação do pavimento, fazendo surgir buracos que se transformam em crateras urbanas que muitos, no gozo, afirmam haver diminuição das quantidades quando aqueles se juntam e viram autênticos “buracões”, os fantasmas dos automobilistas, principalmente em épocas chuvosas.
Venda Ambulante na rua Lino Amezaga
A estas causas juntam-se a circulação e parqueamento de camiões pesados que excedem as cargas suportadas pelas vias, danificando infra-estruturas de drenagem, de abastecimento de água e a superfície viária.

O caos instala-se definitivamente quando finalmente surgem as obras "cabeludas", aliás, intermináveis, conhecidas por todos os citadinos. Estas que deviam ser o alívio, tornam-se soberbamente no invisível muro intransponível que complica a vida do cidadão, já em si stressado das vicissitudes quotidianas que a urbe lhe oferece.

É necessário um planeamento sério na gestão das infra-estruturas urbanas, dos imóveis e mobiliários urbanos e não o atabalhoado início das obras que "fecham" a cidade e não deixam alternativas viáveis de circulação, na ânsia de mostrar-se obras cuja qualidade nem sempre tem os aplausos da população, pelo contrário, apenas o desencanto.

A mussequização vai galgando a passos largos em direcção ao centro urbano e isto acontecerá definitivamente, depois que a periferia urbana for completamente suburbanizada, aliás mussequizada, como vem acontecendo com os bairros como a Terra Nova, B's e C's, Precol, zona da Gajageira, S. Paulo, BO para não falar dos Cassequeles (ou Cassequéis?) de cima e de baixo, do Cariango, do Adriano Moreira, ali por detrás da fábrica da Cuca, Comissão do Cazenga e tantos outros que foram concebidos com algumas infra-estruturas básicas de saneamento, abastecimento de água, energia eléctrica, vias de circulação, embora muitas não fossem asfaltadas, eram entretanto trafegáveis, sem os actuais constrangimentos e cheiros nauseabundos. Bairros, nos quais já se torna difícil a prestação de quaisquer tipos de serviços básicos, como a recolha de lixo, extinção de incêndios para só citar estes.
As B's e C's
                            
A isto chamo mussequizar o que não é musseque, aliás, o que é urbano porque assistimos impávidos e serenos a reversão da urbanização e das áreas urbanizáveis.
Ponte da Ilha de Luanda em 1924
O musseque que antigamente era afastado cada vez mais para lá das áreas agrícolas, como o Cazenga em meados dos anos sessenta, hoje faz o percurso inverso em direcção a "baixa". Não tarda teremos musseques com construções horizontais e até com as tais torres que agora estão na moda, mas cujas infra-estruturas públicas não estão dimensionadas para suportá-las, agravadas a sua antiguidade e manutenção irregular. Mas isto é assunto para outras praias!!!
Ponte da Ilha de Luanda em 1969 
Poderíamos prolongar este texto descrevendo as mais diversas situações que implicam este processo, pois estão aí a mão de semear; Luanda é fértil neste género de situações, o bairro Hoji ya Henda, pela promiscuidade existente – moradias transformadas em casas comerciais ou armazéns de revenda a grosso, etc. – é bem o exemplo do que vimos afirmando.
Assim sendo, creio ter chegado ao fim daquilo que denominei "Processo de Mussequização de uma Cidade" que pode ser generalizado para outras que passem pelo mesmo processo ou similar e isto para chamar atenção da necessidade em reflectirmos sobre a "arrumação" da nossa cidade e dos bairros que a constituem, nos quais crescemos e continuamos a viver, a criar os nossos filhos que crescem sem ao menos conhecerem na plenitude as comodidades urbanas que a independência devia proporcionar sem distinção.

Bessangana

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO DAS CIDADES - parte 2

Razões da publicação
Depois da abordagem feita sobre o perigo que constitui a época chuvosa para Luanda e outras cidades de Angola, relativamente as inundações, deslizamentos de terra e consequentemente o aparecimento de ravinas, destruição de casas e cubatas, mortes de pessoas por soterramento, arrastamento e afogamento, destruição de infra-estruras urbanas, derrube de árvores ornamentais urbanas,  etc, ocorreu-nos trazer a público a génese, aliás, a história do crescimento das cidades do ponto de vista de técnicos, estudiosos, pesquisadores, académicos e outros, para um melhor entendimento das razões que tornam as cidades caóticas nas várias fases de crescimento e quais as diversas e reais intenções daqueles que têm a responsabilidade de trazer, o hipotético ou não, bem-estar das populações e dos grupos empresariais que gravitam a volta destes.
Para o efeito e por estar ao noso alcance, com a devida vênia, utilizaremos a "Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Planeamento do Território – Ordenamento da Cidade, realizada sob a orientação científica do Doutor Jorge Carvalho, Professor Associado Convidado da Secção Autónoma de Ciências Sociais, Jurídicas e Políticas da Universidade de Aveiro" da autoria da TÂNIA DANIELA MONTEIRO ALVES cuja adaptação é da nossa responsabilidade.
A publicação será feita por partes e algumas vezes alternadamente com textos sobre outros assuntos da nossa sociedade que poderão ser do interesse dos amigos leitores os quais desejamos desde já,  boa leitura e Bessangana!
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continuação do subtítulo
As Respostas Modernistas ao Caos Urbano
Owen e Fourier recusam a cidade existente e o seu caos, consequência também da sua estrutura orgânica, propondo um modelo de cidade do futuro, implantado num "espaço amplamente aberto, rompido por vazios e verdes" e traçado de acordo com uma análise e classificação das funções humanas", onde o racionalismo a ciência e a técnica resolvem todos os problemas da cidade.
Estas premissas, segundo Choay6 constituem a base do urbanismo progressista (Choay, 2005:8-9).
Influenciados por Fourier, Victor Considérant (1808-1893) e Jean Baptiste Godin (1819-1888) propõem edifícios inspirados no Falanstério, como a colónia da Reunião, e o Familistério de Guise7, respectivamente (Choay, 2005:77, 105). Contudo, o Familistério, posto em prática em Guise, apresenta características mais modestas, e seria implantado isoladamente num parque circundado pela enseada de um rio (Benevolo, 1997:568).
É constituído por um edifício principal com três blocos fechados; edifícios anexos, onde se localizam os equipamentos e serviços; pátios fechados e ruas-galeria, onde as pessoas convivem. Os elementos chave do Familistério assentam na higiene, ar e luz, convivência e vida social, estimulação intelectual e educação (existência de escolas com vários níveis académicos e biblioteca).
Godin preconiza essa luz e ar através dos jardins que envolvem o edifício, aliás defende que a jardinagem é um recurso atractivo e essencial na educação (Godin in Choay, 2005:105- 107).

Outra solução utópica que surge na mesma altura como resposta ao estado de insalubridade da cidade, é a de Benjamin Richardson (1828-1896), médico inglês que funda o Journal of Public Health and Sanitary Review (1855-1859) e a Social Science Review (1862), que devido à sua preocupação com a saúde pública e o estado da cidade, desenvolve num livro (1876) um modelo utópico de cidade para 100 000 habitantes, à qual chama Hygeia, e que surge de uma comunicação num congresso da Social Science Review (1875), conhecendo a partir desse momento, uma difusão mundial. (Choay, 2005:99; Ottoni in Howard, 2002:25). Hygeia ocupa um terreno com 4 000 acres (cerca de 1 600 ha), com cerca de 20 000 casas, numa média de 25 pessoas por acre8. As casas têm no máximo 4 andares (cerca de 18 m), cada uma com um máximo de 15 apartamentos. Todas as traseiras das casas têm jardim, assim como terraço onde podem existir plantas. A cidade é cortada por duas grandes ruas principais no sentido Este-Oeste, existindo em cada uma, uma via-férrea para o tráfego pesado. Outras ruas cortam as principais no sentido Norte-Sul, assim como as secundárias que são paralelas a estas, ladeadas por árvores e bastante largas, promovendo uma boa insolação e ventilação, também devido à baixa altura das construções.

Os edifícios públicos, os serviços e os equipamentos são "independentes, formando pedaços de ruas e ocupando a posição de várias casas. São cercados por um jardim e contribuem não só para a beleza da cidade, mas também para a sua salubridade" (Richardson in Choay, 2005:100). Nas ruas principais, localizados equidistantemente em vinte locais, encontra-se um prédio isolado envolvido por terreno, é o hospital-modelo que se decompõe em pequenas instituições (Richardson, in Choay, 2005:101).
Entretanto, ainda dentro das críticas e soluções utópicas, mas numa perspectiva distinta das anteriores, John Ruskin (1818-1900) e William Morris (1834-1896) criticam a pobreza do planeamento urbano e cidade inorgânica, incoerente, desintegrada, defendendo um ideal nostálgico da organicidade e diversidade, da harmonia das ruas e cidades do passado, sendo estas as bases do urbanismo culturalista (Choay, 2005:122).

Morris (Choay, 2005:132-135) critica ainda o fourierismo dizendo que aquele modo de vida apenas pode ser concebido por pessoas envoltas pela pior forma de pobreza. Defende também a recuperação e regeneração dos centros antigos, assim como a supressão da diferença entre a cidade e o campo, e a preservação do ambiente natural.

Aquém das soluções utópicas, a renovação de Paris é levada a cabo durante o Segundo Império (1851-1870), tendo várias situações positivas a seu favor, a ambição de Napoleão de "tornar Paris a mais significativa cidade do mundo" (Ottoni in Howard, 2002:32), a capacidade do Prefeito Haussman (1809-1891) e a existência de duas recentes leis, a da expropriação (1840) e a sanitária (1850). Esta renovação pretende dar resposta aos problemas de insalubridade e congestionamento da cidade, através da busca da regularidade e de uma imagem moderna, revalorizando os monumentos através da sua localização estratégica.

A circulação (165 km) é o elemento base do Plano de Haussman; dando continuidade às linhas barrocas do passado são executadas 95 km de novas ruas que rasgam o tecido medieval, fazendo desaparecer 50 km das suas ruas antigas (Benevolo, 1997:589), a cidade é assim cortada por eixos ortogonais que se cruzam numa zona central, a Île de la Citté. O sistema viário é completado por 12 avenidas que se prolongam até à periferia e ao campo, perfazendo 70 km de ruas, com o objectivo de facilitar futuras expansões urbanas. A cidade estende-se assim até às fortificações externas.

São ainda propostas avenidas que circundam o centro e ligam os vários sectores da cidade, principalmente as estações ferroviárias (Benevolo, 1997:589; Ottoni in Howard, 2002:32). É proposta uma eficiente inserção no tecido urbano de novos equipamentos e serviços que visam responder às novas necessidades da população, tais como, o aqueduto, gás, iluminação, rede de transportes públicos, escolas, hospitais e nomeadamente parques públicos (Benevolo, 1997:593).

Segundo Ottoni (Howard, 2002:36) o Plano de Haussman inspirou intervenções noutros países, como por exemplo Viena, que derruba as muralhas antigas e as substitui por um anel verde, o Ringstrasse (1873-1914) onde localiza, isolados relativamente da cidade, novos equipamentos e serviços. A intervenção de Haussman e o Ringstrasse de Viena inspiram, ainda no início do primeiro quartel do séc. XX, a criação de um movimento, nos EUA, que assenta no embelezamento das cidades, cujo percursor é Daniel Burnham (1846-1912) responsável pelo plano de Chicago (1909), obra-prima deste movimento que se denomina de City Beautiful e que influencia grandemente o desenho urbano europeu nos anos 20 e 30 (Lôbo, 1995:15).

Assim como Paris, Barcelona também sofre uma intervenção, mas neste caso trata-se de um plano de expansão – Ensanche – levado a cabo por Ildefonso Cerdá em 1859. Este tipo de ensanche foi também realizado em Madrid com o Plano Castro. O Plano de Cerdá foi pensado para albergar 800.000 pessoas9 e alterou a cidade de Barcelona para o que conhecemos hoje. Caracteriza-se por possuir uma visão conjunta da cidade, com vista a resolver os problemas de higiene, mobilidade, densidade e desenvolvimento económico. O desenho da nova cidade assenta num conjunto de elementos que formam uma estrutura de conjunto, a rede viária e os seus cruzamentos, os nós, e os quarteirões, aos quais denomina de 'ilhas', onde localiza os edifícios, equipamentos e espaços verdes (Rueda, s/d). O Plano consiste numa quadrícula regular formada por vias com 20 m de largura e quarteirões com 113 m de lado, que formam, num conjunto de nove, um quadrado com 400 m de lado (Lamas, 2007: 216). Contudo esta quadrícula é cortada por vias diagonais que se encontram numa grande praça. Esta nova malha envolve a cidade antiga que chega a ser atravessada por algumas vias que dão continuidade aos eixos da expansão.

Embora o Plano consista numa malha ortogonal que forma quarteirões regulares, Cerdá propõe uma variedade de formas de ocupação destes, no entanto, a nova cidade é construída segundo a forma clássica (Carvalho, 2003:52-53). Para além da estrutura viária que preconiza, Cerdá propõe igualmente um sistema de parques e jardins com o propósito de funcionarem como espaços de ar puro (Mendoza, 2003).
No entanto, embora os quarteirões propostos possuam condições de higiene, salubridade e um carácter residencial muito forte, ao contrário da cidade medieval, apresentam-se igualmente muito direccionados para a burguesia e não resolvia o problema da acomodação das classes trabalhadoras (Alonso, s/d:159).
Fig. 4 Plano de Barcelona de Ildefonso Cerdá (1864). Alternativas propostas para os quarteirões. Fonte: Lamas (2007)
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6 Choay classifica as utopias socialistas e as propostas do séc. XX de progressistas e culturalistas, dois modelos, que se distinguem pelo "tipo de projecções espaciais, de imagens da cidade futura", o primeiro associado à criação de uma nova cidade assente nas novas técnicas e no funcionamismo, e o segundo na nostalgia da antiga cidade orgânica (2005:7-15);
7 ainda hoje em funcionamento;
8 1 acre equivale a cerca de 0.4 hectares
9 Lamas (Lamas 2007:218)
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Assim terminamos a segunda parte de História da Evolução das Cidades cujo é título da nossa responsabilidade, retirada da Dissertação com o título "A Estrutura Ecológica Urbana no Modelo da Rede Estruturante da Cidade1"

1- In internet


Bessangana


HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO DAS CIDADES - parte 1

Razões da publicação

Depois da abordagem feita sobre o perigo que constitui a época chuvosa para Luanda e outras cidades de Angola, relativamente as inundações, deslizamentos de terra e ravinas, destruição de casas e cubatas, mortes de pessoas por soterramento, arrastamento e afogamento, destruição de infra-estruras urbanas, derrube de árvores ornamentais urbanas,  etc, etc, ocorreu-nos trazer a público a génese, aliás, a história do crescimento das cidades do ponto de vista de técnicos, estudiosos, pesquisadores, académicos e outros, para um melhor entendimento das razões que tornam as cidades caóticas nas várias fases de crescimento e quais as diversas e reais intenções daqueles que têm a responsabilidade de trazer o, hipotético ou não, bem-estar das populações e dos grupos empresariais que gravitam a volta destes.
Para o efeito e por estar ao nosso alcance, com a devida vênia, utilizaremos a "Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Planeamento do Território – Ordenamento da Cidade, realizada sob a orientação científica do Doutor Jorge Carvalho, Professor Associado Convidado da Secção Autónoma de Ciências Sociais, Jurídicas e Políticas da Universidade de Aveiro" da autoria da TÂNIA DANIELA MONTEIRO ALVES cuja adaptação é da nossa responsabilidade.

A publicação será feita por partes e algumas vezes alternadamente com textos sobre outros  assuntos da nossa sociedade que poderão ser do interesse dos amigos leitores aos quais desejamos desde já, boa leitura e Bessangana!
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INTRODUÇÃO - O Crescimento Caótico das Cidades
 
 
As cidades sofreram um enorme crescimento a partir da industrialização, causado pelo aumento da população, alterando para sempre a sua configuração, que foi sendo moldada pelas práticas que foram surgindo, algumas espontâneas, outras a partir dos modelos utópicos que deram origem ao urbanismo do séc. XX.
Muitas cidades actuais continuam a crescer, sem uma direcção definida, de forma caótica, e alastram-se pelo território, associadas a uma expressão já com vários anos, em 'mancha de óleo'. Este crescimento nem sempre justificado pelo aumento da população, vai acontecendo de forma casuística e fragmentária, assente nos interesses imobiliários e numa infra-estrutura viária cada vez mais vasta.
O resultado é evidente: as cidades apresentam-se fragmentadas, dispersas, desordenadas, destituídas de uma forma ou de uma estrutura, sem identidade, e com inúmeros problemas, físico-estruturais, ambientais, sociais e económicos. Estas cidades emergentes não vão, de todo, ao encontro do desenvolvimento sustentável, conceito criado já nos anos 80, e que teve por base a consciencialização da importância das questões ambientais e ecológicas e da sua incompatibilidade com o caminho que as cidades seguiam na altura.
Esta consciencialização conduziu ao aumento da importância dos espaços verdes na cidade, já iniciada com a industrialização, onde a sua criação teve por base a resposta às questões higienistas e sociais. A importância actual prende-se com as questões ambientais e ecológicas, conduzindo à criação de vários conceitos, nomeadamente os de continuum naturale e de Estrutura Ecológica Urbana (EEU).
No entanto, o modo como os espaços verdes e a própria Estrutura Ecológica Urbana (EEU) têm sido abordados, assemelha-se bastante à abordagem de que as cidades têm sido alvo, apresentando-se diversas vezes de modo descontínuo sem a articulação e a multifuncionalidade que seria esperada. Derivam de intervenções isoladas, não fazendo parte de uma visão de conjunto, de continuidade, e tão pouco de integração e articulação com a estrutura edificada, resultando apenas em peças soltas, resíduos, sem identidade e sem leitura na e para a cidade.
É com a leitura destas duas realidades, as cidades actuais e os espaços verdes destas (tendo em vista uma Estrutura Ecológica Urbana), e assumindo-as como um todo, porque a questão assenta nessa visão de conjunto, que se afigura fundamental: contrariar as tendências actuais de crescimento caótico e descontrolado que as atinge e que as vai desfigurando, fazendo com que a sua identidade se dilua, tornando-as num somatório de “não lugares”; e o modo como os espaços verdes é encarado nestas cidades, uma vez que devem fazer parte dela.
É necessário um urbanismo que assuma uma escala mais humana e que realce "a questão ecológica e ambiental" utilizando para tal "novos elementos como a análise estrutural e semiológica do quadro urbano" contribuindo "para a instauração de um Urbanismo adaptado ao habitante"1 e às particularidades e necessidades de cada cidade.

CIDADE, ORDENAMENTO E AMBIENTE

Cidade Pós-Industrial - Ambiente, Características e Problemas

"não são as pedras, mas os homens que fazem a cidade"2

A Industrialização alterou profundamente as Cidades

O aumento da produção e a oferta de emprego provoca uma grande afluência à cidade de 'força operária' que, vinda do campo, procura aqui uma oportunidade de emprego e melhores condições de vida. No entanto, a cidade não se encontra preparada e em condições de albergar esta população, grupos de especuladores dão início à construção de 'casas', originando os bairros operários denominados na Grã-Bretanha de slums. Com o aumento da densidade populacional, inicia-se o processo de suburbanização, a periferia que envolve a cidade antiga, e todo o espaço disponível nesta é ocupado, nomeadamente as suas zonas verdes, jardins e hortos são substituídos por novas construções e remendos (Benevolo, 1997:565), e as condições de habitabilidade tornam-se precárias e insalubres. Os bairros caracterizam-se pela falta de espaço que "impede a eliminação dos refugos e o desenvolvimento das actividades ao ar livre" por falta de espaços públicos e jardins, exiguidade e má qualidade dos edifícios, falta de higiene, luz e ventilação (Benevolo, 1997:565; Carvalho, 2003:57). Aliás, Engels, numa descrição que faz de Manchester, diz que ali "termina toda a aparência de cidade" e "não cresce nem um fio de relva" (Benevolo, 1997:566).

As cidades evoluem sem uma direcção específica à sombra da localização das indústrias e dos interesses especulativos na construção massiva de bairros para as classes trabalhadoras. A cidade tradicional degrada-se e perde todo o equilíbrio com o meio natural.

Embora existam algumas acções por parte das administrações locais na tentativa de resolver os problemas da cidade, a maior parte delas não surte grande efeito. No entanto, durante a mesma altura, não menos importantes são as teorias e a influência dos pensadores dos problemas urbanos. Aliás "em retrospectiva, a influência de todos foi literalmente incalculável, aliás continua a sê-lo. (…) Algumas destas ideias estavam desenvolvidas no final do séc. XIX, e uma grande parte foi tornada pública no final da Primeira Guerra Mundial. No entanto, com a excepção de algumas experiências de pequena escala até 1939, maior parte da influência nas políticas práticas e no desenho apenas começou a partir de 1945" (Hall, 1977:42).

As Respostas Modernistas ao Caos Urbano

Os muitos problemas decorrentes da cidade industrial conduzem ao descontentamento social e a uma busca de soluções para a cidade existente. Desde modo, a tentativa de 'cura' da cidade começa pela sua higienização, e as primeiras respostas surgem ao longo do século XIX através do socialismo utópico, por meio de críticas, denúncias e modelos.

Robert Owen (1771-1858), industrial inglês empenha-se na melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, pondo esse ideal em prática na sua fábrica em New Lanark, fundamentalmente através da redução das horas de trabalho, da prática da escolaridade obrigatória, e do melhoramento do habitat, com base numa cidade-modelo num espaço verde (Choay, 2005:61).

O seu modelo de cidade consiste no estabelecimento de pequenas comunidades semi-rurais distribuídas pelo espaço verde, pequenas cidades industriais autosustentáveis, como Owen as denomina (Choay, 2005:62-63, Guimarães, 2007:108). Deste modo o modelo proposto localiza-se num terreno agrícola com cerca de 500 ha, onde Owen propõe a disposição de habitações num quadrado, para cerca de 1 200 pessoas, em que a zona central é ocupada por edifícios públicos e zonas verdes destinadas ao lazer e desporto. Os edifícios para além de serviços englobam alguns equipamentos como escolas, biblioteca e um centro de encontro, que constitui o centro. No perímetro externo desenvolvem-se as áreas de habitações, onde os jardins destas e um anel de ruas isolam todo o tipo de estabelecimentos industriais e rurais (Benevolo, 1997:567; Owen in Choay, 2005:63-64).

Fig 1. Cidade industrial de Robert Owen - A multiplicação das cidades pelo campo. Fonte : Benevolo (1997)

Fig. 2. Cidade industrial de Robert Owen - New Harmony. Benevolo (1997)
 Owen apresenta o seu plano, entre 1817 e 1820, ao governo inglês, no entanto este é reprovado. Já na América (1825) adquire um terreno para realizar o seu sonho, comunidade à qual chamou New Harmony, no entanto confrontado com a realidade, visto ter que se adaptar a aldeias já existentes, a sua tentativa fracassa (Benevolo, 1997:568).

Entretanto em França, Charles Fourier (1772-1837), um escritor que defende um novo sistema filosófico e político, e que acredita que a reestruturação da sociedade através associação e cooperação é a cura para doença passageira que é civilização existente, assenta a sua proposta num grande edifício, o Falanstério, "nem urbano nem rural"3, no qual deve habitar um grupo de 1620 pessoas de diferentes estratos sociais, a falange (comunidade), implantado num terreno com 250 ha (Benevolo, 1997:568). Segundo Choay (2005:9, 68), o 'modelo de habitação colectiva' de Fourier caracteriza-se pela negação da família, pela ruptura com os modelos passados, pela forma de introdução da natureza no modelo e essencialmente pela visão funcionalista com o início do zonamento funcional. O edifício apresenta já uma separação de funções, por alas e pisos, separando os serviços, equipamentos, oficinas, habitações e zona para visitantes. No piso térreo existe um pátio central e pátios fechados de menor dimensão, de modo a não terem vista para o campo, que funcionam como jardins de Inverno, e passagens fechadas para as carroças. O pátio central consiste no elemento de separação entre o edifício principal e os estábulos, celeiros e lojas. No primeiro piso, encontram-se as galerias cobertas climatizadas que fazem toda a comunicação interna, substituindo as ruas4 (Benevolo, 1997:568; Fourier in Choay, 2005:72-74; Miles, 2008:43-44). Segundo Benevolo (1997:568) entre 1830 e 1850 existem várias tentativas de colocar este modelo em prática por parte de alguns países.

No entanto, o Falanstério é apenas uma parte de um ideal maior, ou seja, uma peça de uma cidade ideal do período garantista5, que multiplicar-se-ia, gradualmente, através de um grande número de Falanstérios transformando-se em cidade (Miles, 2008:42). Essa cidade divide-se em três anéis concêntricos de dimensões distintas adaptadas às construções nelas inseridas, separados por plantações rasteiras e relvados. O primeiro anel é a cidade central, o segundo, destinado aos grandes edifícios fabris e arrabaldes e o terceiro para as grandes avenidas e subúrbios

Fig 3. Falantério de Fourier. Fonte: http://web.tiscali.it/icaria/urbanistica/fourier/fourier05b.jpg
Todas as casas são isoladas, tendo os jardins ou pátios permeáveis no mínimo a mesma área da superfície impermeabilizada pela construção. O espaço vazio permeável é o dobro e o triplo, no segundo e terceiro anel, respectivamente. O espaço entre os edifícios deve ter pelo menos metade da altura deste, nas fachadas laterais e tardoz, e os edifícios localizados nas ruas, não devem exceder em altura a largura desta, reservando um ângulo de 45ºC na fachada frontal, promovendo assim a ventilação e insolação. As ruas devem ter como ponto de fuga monumentos ou paisagem rural, algumas serão curvas, para quebrar a rectilinearidade sendo metade arborizadas com espécies variadas. Existem ruas pedonais, com a mesma largura das outras, no entanto parte da largura destas é ocupada por relvado (Fourier in Choay, 2005:69-71
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Referências:
1 Choay (2005, contracapa;

Assim terminamos a primeira parte de História da Evolução das Cidades, título da nossa responsabilidade, retirada da Dissertação com o título "A Estrutura Ecológica Urbana no Modelo da Rede Estruturante da Cidade1"
2 (Aristóteles in Naredo, 2000:18);
3 Miles (2008:43);
4 Fourier abole as ruas e assim Corbusier fará no século seguinte, poderemos dizer que o modelo de Fourier serviu de inspiração para as ideias desenvolvidas por Corbusier para a Cidade Radiosa, aliás segundo Choay (2005:68) anegação da família no modelo de Fourier é diferença substancial entre os dois modelos;
5 Ver Choay (2005:68-69);
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Bessangana
1- In internet

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

REFLEXÕES SOBRE DRENAGEM URBANA EM ÉPOCA CHUVOSA

Em Luanda a época chuvosa, de certa maneira, provoca destruições várias, deslizamento de terras, transbordo dos colectores, deformação do pavimento rodoviário e passeios, inundações de vastas áreas habitadas e outros constrangimentos provocados pelo mau estado técnico de grande parte da rede de esgotos, pelas construções anárquicas em linhas natural de água e seu consequente estreitamento, resultando na diminuição da capacidade de escoamento dos colectores e valas de drenagem e ainda por conter, em parte ou na totalidade, lodos sépticos sedimentados ou resíduos sólidos acumulados em grandes extensões.

Com o seu início as preocupações dos cidadãos aumentam, principalmente aqueles que vivem em áreas de risco e suburbanas cuja topografia é principalmente plana com condições de drenagem precária ou inexistentes.

A morfologia territorial e urbanística de Luanda é caracterizada por áreas plana e planáltica irregular da qual ressaltam elevações montanhosas de transição para a litorânea, sendo que em algumas partes da primeira é notório a natureza argilosa dos solos, de difícil infiltração, que a conferem características susceptíveis a alagamentos quando a ocupação urbanística é feita desordenadamente e principalmente quando não há infra-estruturação prévia adequada.
Importa realçar que os problemas de Luanda, neste aspecto, são de natureza estrutural, começando pela periferia ou áreas suburbanas, onde os espaços adjacentes as linhas naturais de água e valas de drenagem foram ocupadas, impedindo o livre escoamento das águas pluviais; o sistema de micro drenagem entrou praticamente em colapso e tende a agravar-se em direcção ao centro da cidade se não agir-se já em conformidade com o surgimento dos grandes edifícios, por estes constituírem-se como problemáticos para as  infra-estruturas públicas de drenagem que continuam sendo as mesmas, dimensionadas e implantadas na segunda metade do século passado.

A história das cidades reporta a inundação urbana como uma ocorrência tão antiga quanto o surgimento dos aglomerados urbanos e acontece quando a água sai do leito de escoamento devido a falta de capacidade de transporte dos sistemas de drenagem e ocupa áreas utilizadas pela população. A inundação também pode ser ampliada em função das alterações produzidas pelo homem para urbanização, através da impermeabilização das superfícies e Luanda não foge a regra, isto confirma-se pela sua história de crescimento urbano em que as primeiras infra-estruturas para o efeito começaram a surgir na segunda metade do século passado após as grandes enxurradas dos anos 60 que inundou e soterrou a baixa da cidade.


Registaram-se sempre inundações nos chamados musseques, talvez não com a mesma gravidade actual, mas aconteceram e continuam acontecendo na actualidade em áreas periféricas às valas de drenagem, aterradas pela população até ao quase desaparecimento das mesmas, para efeitos de habitação e em bairros onde não se acautelaram os pressupostos de drenagem pluvial artificial quando construíram sobre as linhas de água natural.

O centro urbano não apresenta problemas com dimensões idênticas aos dos bairros suburbanos, por estarem infra-estruturadas com sistema de colectores públicos, ainda que estas funcionem deficientemente por falta ou irregularidade de manutenção, submetidos que estão aos esforços externos por cargas excessivas de veículos pesados e antiguidade.

As inundações dos bairros suburbanos só passarão a ser, gradativamente, acontecimentos do passado quando os projectos de reabilitação e requalificação passarem a ser integrados de forma coerente com as infra-estruturas existentes e projectadas e com as áreas circundantes habitadas, tendo-as como unidades funcionais interligadas, concebidas na base de um plano director de desenvolvimento urbano. Se assim não acontecer estaremos remendando a velha manta com pedacinhos novos.

Para acautelar os impactos negativos que podem advir das intensidades das chuvas que se avizinham a Elisal e o GPL iniciaram, na primeira semana de Julho, a limpeza e reperfilamento das valas de drenagem que constituem a macro-drenagem da cidade.


Esta actividade é caracterizada por imensos constrangimentos, resultantes da ocupação desordenada das áreas adjacentes que não possibilitam a movimentação adequada das máquinas e agravadas com a deposição constante de resíduos sólidos nos troços já limpos.

As longas extensões das valas e as dificuldades de penetração e movimentação dos equipamentos, em muitos pontos, têm sido factores de ponderação para o aumento do número de empresas operadoras envolvidas no processo, de forma a tornar célere a limpeza e sua posterior manutenção, dada a aproximação das chuvas.

Pelo facto a população deve ter um comportamento cívico adequado para que os trabalhos em curso se desenvolvam sem grandes constrangimentos. O mesmo serve para a edilidade no tocante a sensibilização dos munícipes para um maior envolvimento em termos participativos.

Bessangana,
Malembe